Programação da 22º Edição do Festival Internacional de Dança de Araraquara - FIDA 2022
Araraquara
INSOLENTE.
O que tem nessa palavra para estar no título de um Festival de Dança?
Pinar Selek, escritora, socióloga e pacifista, perseguida pelo governo turco, vive em exílio na França desde 2009. Eu a conheci em 2019, no mesmo ano em que eu e Ailton Krenak começamos uma amizade e nos conectamos para o FIDA de 2020 e 2021. Duas amizades entrelaçadas.
Ailton Krenak, liderança indígena, ativista do movimento sócio-ambiental e de defesa dos direitos indígenas, vive às margens do Rio Doce. Ele nos ensina a pisar suavemente na Terra e a dançar para sustentar o céu.
Selek e Krenak inspiram e pautam essa edição que reivindica o direito à vida, à imaginação, à magia, à aventura, ao encontro. Quando insolentes dançam…, apresenta, nas reticências, o desejo de ‘gentes’ escrevendo, se arriscando a completar a frase, decolonizando e escurecendo, decantando e movendo, inventando e reencantando mundos.
Com ideias insolentes para adiar o fim do mundo, o FIDA pede licença e celebra 22 anos de existência com uma curadoria compartilhada, construída por mim e por Krenak, com colaboração de Douglas Emilio. Nosso caminho se deu caminhando; sonhamos, fiamos e costuramos a programação com a ecologia de quem tem amor pelo que faz, no/pelo chão que nos constitui e com aquilo que nos é primordialmente relevante - a afetividade.
Propor uma curadoria compartilhada, não diz respeito apenas a juntar pessoas e formar uma equipe que discuta a seleção, distribuição e organização da Dança. Pensar um espaço dinâmico mediado por pessoas com responsabilidade política e motivadas a discutir critérios e argumentos, entre outros temas, é de fundamental relevância.
Refletir sobre a operação que é fazer uma curadoria em Dança exige uma visão em paralaxe, como diria Zizek. Esse é um tipo de deslocamento que propomos no FIDA 2022: olhar por perspectivas múltiplas; criar relações de colaboração nas diferenças; compartilhar a expansão das existências; apagar fronteiras.
Amorosamente, integramos indígenas de diferentes etnias, pesquisadores, educadores, artistas nacionais e estrangeiros, parentes, provocadores, manifestantes, numa rede de cuidado e muito respeito. Assim, temos esse pluriverso espiralar infinito:
(SUGESTÃO DE DIAGRAMAÇÃO EM ESPIRAL SEM ESPAÇOS)
CONVERSASSELVAGENSDIOGOSUSTENTAROCÉUDANÇASSELVAGENSALDEIAARARAQUARAPARTILHASINSOLENTESTURQUIAAMORELUTAPARAGUAITORÉTRANSARTÍSTICOJAMBUENCRUZILHADABÉLGICACALUNGASMUGANGUEIROSEXUBRASILCORPOFLORESTACORPOEBÓARGENTINAÁGORAENTREQUILOMBOKARIRIKIRIRIKRENAKNÓBREGATERCEIRANATUREZASAMBAFEMINISTABICHOSSOLTOSCUMADESCOMUNIDADELGBTQI+CASAHONRARIANORDESTENORTESUDESTESULTOCAYACAPOEIRAMARACATUREALIDADEVIRTUAONLINEOFFLINEFESTARITUALAWETÉKATUEREHÉKANGHIKAYÁDJAGAWATÁDJOUPIWÉCONTARMAISUMAHISTÓRIALICENÇASPEDIDOSENCANTADOSANCESTRESPRESENÇAS...
A curadoria em Dança não se encerra em si mesma, tem o compromisso de deixar vestígios, de disseminar marcas residuais poderosas, de pautar outras formas de políticas, de corazonar territórios, de evocar ritos e encantados, de fazer acordar em nós a insolência.
INSOLENTE.
O que tem nessa palavra para estar no título de um Festival de Dança?
Tem sol no meio, inSOLente. Tem luta por liberdade. Tem grito. Tem revolução. Quando insolentes dançam ... tem mais SOL na MORADA.
Gilsamara Moura
Curadora FIDA