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FIDA 2023 
Araraquara

 

Qual a conexão que temos hoje com aqueles que sonharam nas cavernas? O sonho pode ser olhado como uma instituição que admite sonhadores e naturalmente as pessoas aprendem diferentes linguagens e recursos para que se possa dar conta de si mesmo e ao que está em seu entorno. Neste sentido, com os povos originários se tem a possibilidade de se abrir uma fresta de entendimento sobre o que o mundo do conhecimento e a ciência, como por exemplo, daquele pajé que me alertava na juventude sobre a devastação do Cerrado. O alerta do pajé por meio de um sonho se cumpriu. O agro invadiu o Cerrado. Compreendo que o sentido do sonho é como uma instituição que prepara as pessoas para se relacionar com o cotidiano e essa é uma experiência que vivo desde minha juventude e se comunica com outros sentidos, pois o sonho pode ser também concebido como uma prática inserida no âmbito cultural e íntimo, você não conta um sonho em praça pública. Sonhos são contados para as pessoas que estão conectadas com você afetivamente. Para mim, o lugar do sonho é um lugar de vinculação de afetos, em seu sentido mais vasto, sentido que potencializa a conexão com o mundo sensível. O sonho tem uma maravilhosa clareza e não há nenhum véu que o separe do cotidiano. Diferente do sonho do pajé que nos alertou sobre a devastação do Cerrado. Há no mundo muitos tipos de sonhos… Então, compreendo e desejo que essa 23ª edição do Festival Internacional de Dança de Araraquara sob o tema “Dançar sonhos manifestos”, nos propicie resgatar, nos provoque acordar e que nos manifestemos cada vez mais intensamente a partir do exercício da arte de sonhar.

 

Ailton Krenak Curador FIDA

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